sábado, dezembro 31, 2011

Morrendo na praia

O cheiro se sentia a quilômetros de distancia. Era algo inacreditável, jamais visto por turistas e moradores da região. Era grande, ainda matinha seus traços naturais, porem, só havia a carcaça para identifica-lo como boto, golfinho, ou pior um tubarão.
Era realmente uma imagem inédita. Corvos, urubus, entre outras aves, iam pra perto buscar seu ganha-pao no animal. Que apesar de morto, ainda sofria na praia de Itanhaém.
Não se sabe quando aquele animal chegara ali. Nem de que forma chegara aquele ponto. Só se sabia que estava ali, sem vida, já sem esperanças de um socorro. Era tarde demais. Aliás muito tarde.
Era impossível não se comover com a tal desgraça, mas também não dava pra culpar os humanos, afinal quem sabia de quem era a culpa? Poluição, lei da selva, lei da sobrevivência... O animal estava lá, apenas.
Era curioso e muitos se aproximavam para ver de perto. Seu coração estava lá ainda. Morto sem chances de pulsação alguma. Já era tarde demais.
Caminhando na areia era possível ver mais tristezas. O lixo, os animais pequenos mortos, pragas da areia sempre atentas para um possível jantar. Era incrível como o mar estava mais perto de nós a cada momento e não se podia fazer nada. Antes o mar fazia os rastros de lixo, hoje o lixo faz os rastros do mar.
E pior é que você cospe, urina, mergulha, se lava nele, cuide dele então, ele faz parte de você. De todos nós.
O mínimo do mínimo é guardar o lixo que consumiu da praia e jogar numa lixeira mais próxima. Mas isso é o mínio.
Cada ano que se vai e que se volta aquele lugar se vê tantas coisas tristes. Cada vez mais apagada da memória humana, a praia continua sendo um refúgio da realidade, como se ela não fosse tão importante para a vida humana.
Ele cobre seus pés, te enterra, te afoga, te faz boiar. Mar, ele faz parte de você!
Outros dizem não haver nada com isso, por não gostar de praia, mas se você não tem culpa, ninguém tem culpa, ele simplesmente amanheceu assim. Sujo pelos próprios seres viventes daquele lugar. Simples assim empurrar a culpa para os outros. Simples assim deixar tudo de lado enquanto o mundo acaba.
Não se consegue a mesma felicidade de antes de viajar e estar junto da família num local como este. Talvez o campo seja um local mais tranqüilo e limpo que já se pode estar. Cuidar de quem você gosta num local onde o ar é "100% puro". Que engano! As estrelas do mar antes incomodavam ao caminhar na areia. Não dava pra andar 10 cm sem ser espetado por uma delas. Hoje é quase raro se encontrar uma dessas, e quando se encontra, esta lá, morta, fazendo peso na terra. Obrigada por todos. Vocês tiraram todas as estrelas que havia no mar, hoje ninguém mas é espetado por uma delas. Hoje elas estão todas no céu apenas. E olhe lá! É tão difícil encontrar uma constelação. Parece que nunca existiram. Só mesmos nos planetários da vida. Vamos ate lá, já que não se pode ver a olho nu mais.
Humanidade! Cada vez mais pratica, fria e tecnológica! Obrigada a todos vocês estão contribuindo pra um mundo novo.
E aqueles que fazem sua parte, de pelo menos o mínimo do mínimo que citei antes, vocês sabem mais do que eu, é quase inútil. Acordamos tarde demais, vamos morrer na praia como o pobre animal. É tarde pra socorrer o mundo que ainda não se tocou. Eu não posso acordar o mundo de um sono de 100 anos, ele tem que ter forças pra se levantar sozinho, eu só faço minha parte, que ainda considero o mínimo do mínimo do mínimo. Lembrem-se : “Vontade – Ação = nada” ( O Monge e o Executivo) .

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